155 dias: fantasmas

Relatos anacrônicos de um isolamento auto-imposto.

Hely Branco
Aug 18, 2020

Faz 155 dias que começou, ao menos aqui. Cinco meses são mais do que suficientes para mudar alguns pontos de vista. Os espectros de normalidade vindos a conta-gotas pelos últimos meses, e por semanas a fio desejados com um fervor quase fanático, não trazem a sensação de conforto esperada; pelo contrário, tornam o contraste da insanidade coletiva que compartilhamos e o que tínhamos por mundo ainda mais forte.

As visitas desses fantasmas do passado, que sentam-se à sala para um chá quando menos se espera, deixaram de ser desesperadoras e passaram a ser intrigantes, estimulantes, e até mesmo agradáveis, embora sempre aterradoras. Sua presença torna ainda mais surreal e difícil enfrentar a pandemia e a onda de ignorância atualmente manifesta em suas mais nocivas formas, nominalmente negacionismo científico e falta de empatia; porém, tornam mais clara a necessidade de mudanças. A sociedade, tal como a conhecíamos, era profundamente falha, disso ninguém com o mínimo de bom senso jamais duvidou. Torna-se clara, apenas, a necessidade por mudanças radicais e imediatas; mudar há muito deixou de ser preferência para tornar-se questão de sobrevivência

O que virá a seguir, assim como era no início desse conturbado período, é incerto. Disso, apenas uma certeza: no cenário otimista, a situação ficará estagnada por meses a fio, no realista, piorará tremendamente. Tenho medo de pensar no pessimista.

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