128 dias: novo normal

Relatos anacrônicos de um isolamento auto-imposto.

Hely Branco
1 min readJul 22, 2020

Faz 128 dias que começou, pelo menos aqui. Faz um certo tempo desde meu último relato; um Fevereiro inteiro de experiências, ou da ausência delas, se passou desde então. Curioso como a necessidade de registrar essa experiência tão surreal diminuiu a medida que a sensação de normalidade se fortaleceu. Hoje é nítido: esse é o novo normal, e o será por um bom tempo. Por muito tempo foi difícil aceitar esse fato; talvez por isso tenha sido tão difícil voltar a registrar quaisquer pensamentos que fossem aqui.

Um misto complexo de emoções vem a tona ao pensar nesses 128 dias de distanciamento auto-imposto (o único tipo de isolamento que existe por aqui). Destas, a segunda mais forte é a frustração. Essa frustração tem várias fontes, como a impossibilidade de desfrutar mesmo das menores liberdades, do tempo cada vez maior privado das companhias dos amigos, da necessidade de abandonar o pouco de segurança que os planos para esse ano traziam, e sobretudo com as atitudes dos governantes, que pouco ou nada fazem frente a essa crise. Ela perde apenas para o medo, que também tem origens diversas. Ele provém da falta de segurança que o aumento do número de casos e óbitos traz, da consciência do tempo e oportunidades em grande parte perdidos, e sobretudo da sobriedade de todas as demais emoções; o que mais me assusta é como todas as facetas dessa situação absurda, desde o número de mortos até o descaso tanto pessoal como institucional, se tornaram normais.

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Hely Branco
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Written by Hely Branco

Makes things up and eventually writes them.

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